14 de out. de 2015

Como as crianças aprendem a regular as emoções?




Quando podemos identificar uma emoção nos bebês? Há uma discordância entre os pesquisadores sobre quantas emoções existem, quando surgem e como deveriam ser definidas e mensuradas.

De acordo com Damásio, podemos dizer que as emoções são, uma forma que a natureza encontrou para proporcionar aos organismos comportamentos rápidos, eficazes e orientados para a sua sobrevivência.

As emoções podem ser divididas em primárias: o medo, a raiva, a tristeza e alegria; e secundárias: ciúme, inveja e vergonha.

As emoções primárias são inatas e estão ligadas à vida instintiva, à sobrevivência. Havendo concomitante contração generalizada dos músculos flexores, sendo possível adotar-se uma atitude regressiva fetal, vasoconstricção periférica, palidez da face e esfriamento das extremidades, com brevíssima parada dos movimentos respiratórios e dos batimentos cardíacos. Podendo ser adaptativas ou desadaptativas.

Emoções Primárias Adaptativas são: raiva, tristeza e medo. Tais emoções possuem uma relação com a sobrevivência e ao bem-estar psicológico. São aquelas rápidas quando aparecem e mais velozes ainda quando partem. As Emoções Primárias Desadaptativas, são as emoções das quais as pessoas lamentam tê-las expressado de maneira tão intensa ou equivocada e frequentemente se arrependem.

Já as emoções secundárias são estados afetivos de estrutura e conteúdos mais complexos que as primárias. Na realidade as Emoções Secundárias, embora levem o nome de “emoções”, já se constituem em sentimentos sensoriais, sendo respostas neurológicas e fisiológicas a estímulos (externos e internos), coordenados pelo próprio pensamento que envolve as estruturas do sistema límbico.

O desenvolvimento emocional da criança é um processo sistemático, onde as emoções complexas se desenvolvem a partir das mais simples.

De acordo com o modelo de desenvolvimento emocional proposto por Lewis, logo após o nascimento, os bebês dão sinais de contentamento, interesse e sofrimento. Os sinais são difusos, involuntários e são em sua maioria respostas fisiológicas à estimulação sensorial ou processos internos.

É durante os seis primeiros meses que esses estados emocionais iniciais se diferenciam em emoções verdadeiras, como alegria, surpresa, tristeza, repulsa e por fim raiva e medo; reações a eventos que têm significados para o bebê.

E neste processo do desenvolvimento emocional temos a dependência do desenvolvimento cerebral. 

O desenvolvimento do cérebro após o nascimento está relacionado a mudanças na vida emocional do bebê/criança. Sendo este um processo bidirecional: as experiências emocionais são afetadas pelo desenvolvimento do cérebro e podem ter efeitos de longa duração sobre a estrutura do cérebro.

Podemos identificar, em linhas gerais, quatro mudanças evidentes na organização do cérebro correspondem a mudanças no processo emocional.
Durante os três primeiros meses, a diferenciação das emoções básicas começa à medida que o córtex cerebral se torna funcional, colocando em jogo as percepções cognitivas. Nesta etapa, o sono REM e o comportamento involuntário, incluindo o sorriso espontâneo do recém-nascido, diminuem.
A segunda mudança acontece por volta dos nove ou dez meses, quando os lobos frontais começam a interagir com o sistema límbico, considerado o centro das reações emocionais. Ao mesmo tempo, as estruturas límbicas, como o hipotálamo, tornam-se maiores e mais semelhantes às do adulto. As conxões entre o córtex frontal e o hipotálamo e o sistema límbico, que processam as informações sensoriais, podem facilitar a relação entre as esferas cognitiva e emocional. à medida que essas conexões vão se tornando mais densas e mais elaboradas, o bebê pode experimentar e interpretar as emoções ao mesmo tempo.
A terceira mudança acontece durante o 2° ano, quando os bebês desenvolvem a autopercepção, emoções autoconscientes e uma capacidade maior para regular suas emoções e atividades. Essas mudanças, que podem estar relacionadas à mielinização dos lobos frontais, são acompanhadas por uma mobilidade física maior e um comportamento exploratório.
E a quarta mudança acontece ocorre por volta dos 3 anos, quando as alterações hormonais no sistema nervoso autônomo (involuntário) coincidem com o surgimento da vergonha, culpa e orgulho. Os fundamentos do desenvolvimento de emoções como a vergonha podem ser o distanciamento da dominância do sistema simpático, a parte do sistema autônomo que prepara o corpo para a ação, e a maturação do sistema parassimpático, a parte do sistema autônomo que está envolvida na excreção e na excitação sexual.

A regulação emocional tem sido discutida em vários estudos, e e definida como os processos envolvidos na modificação de reações emocionais, e o comportamento visando mudanças de sentimentos numa direção desejada.

Sendo assim, a autorregulação das emoções é o termo usado para definir os processos envolvidos na forma de lidar com níveis elevados de emoções positivas e negativas, consistindo em estratégias automáticas ou controladas e conscientes, que influenciam um ou mais componentes da resposta emocional, incluindo os sentimentos, os comportamentos e as respostas fisiológicas associadas às emoções. As estratégias de enfrentamento procuram diminuir a sensação física desagradável diante da situação estressante, bem como modificar o estado emocional do indivíduo.

A melhoria da regulação da emoção leva a benefícios em todas as áreas da vida de uma criança. As crianças que são capazes de regular suas emoções prestar mais atenção e conseguem um melhor desempenho escolar. Elas são mais capazes de resolver os conflitos com seus pares e mostram níveis mais baixos de estresse fisiológico. Sendo também mais comportados, e mais solidária para com os outros.

Quando ajudamos as crianças a aprendem regular as emoções, estamos fazendo muito mais do que ajudá-los a controlar seu temperamento. Sim , precisamos ensiná-los – e insistir – que se eles querem falar com a gente sobre um problema eles devem falar conosco calmamente. Mas a regulação da emoção é muito mais do que a gerência da raiva.

Regulação emocional significa, portanto, ser capaz de pensar de forma construtiva sobre como lidar com os sentimentos. Queremos que as crianças têm os seus sentimentos, mas que não sejam dominadas por elas.

Em uma visão cognitiva baseada na Teoria do Processamento da Informação, propõe-se um modelo para o desenvolvimento da autorregulação afetiva, em que são identificas algumas etapas para um controle eficiente das emoções.
A primeira delas é a percepção do aparecimento da emoção e da necessidade ou não de controlá-la,
Seguida pela identificação da causa do afeto e do que poderia ser feito.
A terceira etapa consiste no estabelecimento de metas e a quarta seria levantar possibilidades de respostas para se alcançar a meta.
Em seguida, é importante avaliar os possíveis resultados e, por último, o desempenho das respostas escolhidas.

A literatura científica descreve uma grande variedade de estratégias usadas por crianças em idade escolar com de regulação emocional. Em linhas gerais, as pesquisas revelam que cada emoção requer o emprego de diferentes estratégias de regulação ou de enfrentamento.

Por exemplo, para lidar com a tristeza, têm sido empregadas estratégias, tais como reestruturação cognitiva, execução de atividades de lazer, atividades sociais e esportivas. Para a raiva, as estratégias usadas são: distração, auto verbalizações, assertividade, mudança de pensamento, relaxamento muscular, afastar-se da situação, entre outras. No caso do medo, as estratégias estão relacionadas aos comportamentos de solicitação de ajuda, à identificação da origem do medo e à avaliação de sua veracidade. Estratégias de regulação da alegria implicam o uso das que objetivam a manutenção do sentimento de satisfação, o prolongamento do bem-estar físico e psicológico, por ela produzido.

Com o aumento da idade verifica-se o aumento de mudança do estado mental, de estratégias verbais e sociais e de como evitar certas emoções através do uso de divertimento ou comportamento reativo.

Contudo, para que haja o desenvolvimento cognitivo e emocional adequados, é necessário que a interação com o meio, incluindo seus cuidadores seja também adequada. E neste ponto, faz-se importante a intervenção dos pais. Já que a maioria das crianças efetivamente aprender a regular suas emoções quando eles estão confiantes de que seus sentimentos serão ouvidos.

Quando uma criança espera que seus sentimentos e preocupações serão apreciado e compreendido, suas emoções se tornam menos urgente. Porque cada decepção e frustração agora se sente menos dolorosa, ela vai ser menos insistente em suas exigências , e mais aberta e flexível na busca de soluções para os problemas. A criança passa então a se manter presos na culpa e no aspecto negativo da emoção, podendo ser mais capaze de sentir empatia e preocupação pelos outros, bem como de assumir a responsabilidade por suas ações.

Como pais e profissionais, precisamos, portanto, reservar um tempo , todos os dias, para ouvir as preocupações de uma criança. É claro que não podemos escutar pacientemente, mesmo quando estiver cansado ou apressado, quando estamos sobrecarregados ou preocupados, ou quando naquele momento estamos apenas muito irritado. Com o tempo, no desenvolvimento saudável da empatia, as crianças passam também a entender os nossos estados emocionais.

E são exatamente nesta interação com o adulto, nessas conversas diárias, que as crianças começam a aprender que seus sentimentos ruins, apesar de doloroso, não vão durar para sempre; que, por meio de seus próprios esforços e com a ajuda de adultos de apoio, eles podem fazer as coisas melhor.

Quando aceitamos e valorizamos as emoções dos bebês e crianças, não só ajudamos a se sentir melhor naquele momento, mas também a ajudamos a fazer melhor, em todos os aspectos de suas vidas. E esta crescente capacidade da criança de regular suas emoções – para expressar seus sentimentos em construtivo ao invés de formas impulsivas ou prejudicial – é agora reconhecido como um fator crítico para a saúde psicológica das crianças.

Fontes de pesquisa:




DAMÁSIO, António, (1997). O Erro de Descartes – Emoção, Razão e Cérebro Humano. São Paulo: Companhia das Letras

GOLEMAN, Daniel, (1996). Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva.

DAMÁSIO, Antônio, (2000). O Sentimento de Si. Tradução de M. F. M revista pelo autor, Europa-América.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Topo
Todos os direitos reservados - Desenvolvido com
por Lorena Alves