14 de out. de 2015
Autonomia e independência na criança
A cada dia tenho visto com maior frequência na minha experiencia clinica crianças incapazes de fazer suas próprias escolhas, dependentes dos pais para realizar tarefas simples do dia a dia e pais cada vez mais culpados pela ausência na vida dos filhos e tentando compensar esta culpa fazendo tudo o que os filhos mandam.
Os pais estão oferecendo proteção excessiva aos filhos, em vez de desenvolver as capacidades para que eles superem sozinhos as dificuldades do dia a dia. Vejo assim um excesso de liberdade, a criança está dominando o adulto, sem limites, independência e autonomia.
Os hábitos de independência influenciam no desenvolvimento da criança nas mais diversas áreas, como coordenação motora, raciocínio lógico, organização e responsabilidade bem como as crianças autônomas são responsáveis e capazes de tomar decisões.
Autonomia é a condição de domínio do ambiente físico e social, preservando ao máximo a privacidade e a dignidade da pessoa que a exerce. E um conceito que determina a liberdade de indivíduo em gerir livremente a sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias escolhas.
Independência é a faculdade de decidir sem depender de outras pessoas, tais como: membros da família ou profissionais especializados. Uma pessoa pode ser mais independente ou menos independente em decorrência não só da quantidade e qualidade de informações que lhe estiverem disponíveis para tomar a melhor decisão, mas também da sua autodeterminação e prontidão para tomar decisões numa determinada situação
E os hábitos de independência que se forem incentivados desde cedo, ajudarão a criança a se tornar um adolescente e, posteriormente, um adulto mais responsável, bem resolvido, organizado e com iniciativa.
O desenvolvimento da autonomia da criança acontece aos poucos e pode ser incentivado ao deixar a criança a escovar os dentes sozinha, amarrar o cadarço e outros procedimentos de rotina. Mas realizar essas tarefas mostra que uma criança é independente, mas não necessariamente autônoma.
Isto porque, como já mencionamos acima, a autonomia vai além da independência: uma criança autônoma é capaz de escolher e tomar decisões relativas a seu mundo e a sua faixa etária tendo em vista as responsabilidades e consequências que tal decisão pode ocasionar.
Gradualmente a criança se torna capaz de assumir algumas tarefas e a sua autonomia, mas para isso os pais tem que estar preparados para deixar que as crianças tenham algumas experiências. Isso irá acontecer normalmente, conforme ela for sendo estimulada pelos adultos com quem convive. Conforme o desenvolvimento infantil, a criança é capaz de desenvolver algumas atividades:
2 a 3 anos: já é capaz de trocar brinquedos com os amigos e não mais tomá-los a força, de sentar-se a mesa durante o lanche e de se alimentar sozinho.
3 a 4 anos: Nessa fase ela é capaz de cumprir regras de convivência construídos coletivamente e realizar tarefas como carregar a própria mochila e tirar o material escolar. Pode ainda usar o banheiro com a supervisão de um adulto.
4 a 5 anos: Manuseia os objetos pessoais e quando tem dificuldade motora solicita ajuda. Também tem condições de escolher com o que vai brincar. Troca de roupas, ir no banheiro e entender algumas regras sociais, ajuda o professor na escola e participa de atividades em grupo, amarrar o sapato.
5 a 6 anos: Já é capaz de escolher os amigos e brincadeiras. E também já pode ser responsável pelos seus materiais e brinquedos, escovar os dentes sozinha, fazer a própria cama e receber e administrar uma mesada semanalmente.
E como os pais podem ajudar as crianças a ter autonomia?
Incentivando a criança a executar tarefas que tenha capacidade de realizar sozinha, bem como a aprender coisas novas.
Parabenize-a a cada iniciativa com sucesso.
Demonstrar interesse pelas coisas realizadas pela criança
Não a prive da dificuldade, mas ajude-a a superá-las.
Acompanhando o desenvolvimento da criança não retardando processos que ela já tem maturidade para executar.
Não cobrando da criança o que ainda não é de sua competência.
Dialogando com a criança em situações de conflito
O desenvolvimento da autonomia e da independência é uma tarefa difícil, que exige dedicação, persistência e paciência. Provavelmente a criança não vai conseguir dominar determinada tarefa na primeira vez e isto faz parte do processo. Toda a aprendizagem envolve várias fases: a iniciativa, as tentativas, lidar com a frustração do erro, ser perseverante para tentar de novo, saber buscar ajuda e tentar novamente até conseguir.
E para ajudar além dos itens mencionados acima é importante:
Ensinar a criança a organizar objetos: a partir de um ano e meio de idade a criança já compreende ordens simples e pode começar a participar de pequenas tarefas como, guardar os próprios sapatos no local certo e a colocar a roupa suja no cesto; as atividades corriqueira desenvolvem o pensamento lógico matemático, exige planejamento, atenção e responsabilidade.
Deixar a criança se arrumar sozinha: vestir-se e calçar-se sozinha faz com que a criança desenvolva a coordenação motora, a lateralidade, a organização do pensamento lógico.
Tomar banho e escovar os dentes sozinha: é uma atividade em que a criança precisa aprender com calma e paciência, oriente, supervisione mas deixe que a criança se lave sozinha, e o mesmo se aplica ao momento de escovar os dentes.
Ensine a criança a fazer escolhas: demonstre que acredita nas crianças e em sua capacidade de tomar boas decisões – respeitando as limitações de cada idade e deixe que ela expresse seus pontos de vista, suas ideias; mantenha também o diálogo com a criança e pare para escutar seus argumentos.
Se você quer que seu filho tenha autoconfiança, deve . Uma maneira eficaz de incentivar a independência da criança é deixá-la .
Incentive a resolver pequenos problemas: permita que as crianças superem sozinhas pequenas dificuldades sem interferir (mas claro, sem deixar de proteger em situações de perigo)
E para finalizar deixo um resumão feito pela Maria Lina Hauteville do blog Conexão Paris livro Crianças francesas não fazem manha da Pamela Druckerman, e que concordo completamente. A partir da comparação do comportamento dos pais americanos e franceses, o livro vai aos poucos revelando aspectos da cultura de cada país:
Enquanto os bebês e as crianças americanas comem biscoitos e outras bobagens o dia todo, os francesinhos comem apenas nos horários determinados.
Enquanto os pais americanos proíbem doces e outros açucares durante pelo menos o primeiro ano de vida de seus bebês, o franceses tratam todos os tipos de alimentos de forma natural e não tentam fingir que balas e chocolates não existem.
Enquanto os pequenos franceses são incentivados pelos pais e pela escola e apurar o paladar, comendo foie gras e camembert desde bebês, os americanos ficam restritos a papinhas e purês durantes anos a fio.
Enquanto as americanas acham que engordar 20 quilos durante a gravidez é razoável, as francesas têm como limite 14 quilos.
Enquanto as francesas tentam estar em forma após três meses do parto, as americanas não se importam muito com isso.
Enquanto NÃO é palavra-chave na educação das crianças francesas, os americanos têm medo que o excesso de NÃOS possa podar a criatividade de seus pequenos.
Enquanto os pais franceses acham que a criança não pode ser o centro da atenção do casal, se permitindo saídas e viagens a dois e momentos cotidianos sem a presença da criança, os americanos passam anos vivendo a vida de casal em família.
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